domingo, 29 de agosto de 2010

Homofóbica?

A Igreja Católica é Homofóbica?


Lê-se no G1:

Papa critica projeto de lei britânico contra a discriminação de homossexuais.

Igreja homofóbica? Não é bem assim. A mídia, claro, conta a parte da história que lhe é favorável, distorce a notícia da maneira que lhe apraz. Gostaria, inclusive, de fazer uma analogia para mostrar o quanto é reducionista a notícia da maneira que foi publicada pelo jornalismo da Globo.

Há alguns dias notícia foi publicada na Internet falando dos projetos que andam tentando legalizar na Inglaterra de se ensinar obrigatoriamente educação homossexual. A medida é, sem sombra de dúvida, intolerante.

Veja: não estamos falando aqui duma tentativa sadia de pedir respeito aos homossexuais. Estamos falando de uma medida autoritária que visa impor – atesta esta outra notícia – valores homossexuais. Não é mais um combate à homofobia, é uma tentativa clara e objetiva de se ensinar o homossexualismo em nossas escolas, como se fosse perfeitamente natural e aceitável! Em suma, o combate aqui não é ao preconceito, como expôs o G1, mas à heteronormatividade, ou seja, à idéia de que as relações sexuais moralmente corretas são as que são praticadas entre homem e mulher. aos alunos de todas as escolas – inclusive as religiosas.

É autoritário? Sem dúvida. E são essas medidas que o Papa Bento XVI condena. Do jeito que o G1 publicou, ficou implícita a idéia de homofobia quando, na verdade, o Papa é contra a iniciativa de ensinar e propagar a homossexualidade deliberadamente, não contra os homossexuais.

A Igreja mesmo não é homofóbica. Qualquer um pode atestar essa informação lendo o Catecismo da Santa Sé, que diz:

“[Os homossexuais] devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição” (n. 2358).

Então, imprensa, deixe de repetir aquilo que não é verdade! Deixe de insistir numa mentira. O que o Papa condenou, ao se dirigir à Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales, foi a medida de se impor o homossexualismo como relacionamento sexual correto e moralmente aceitável que, em si, não combate a homofobia, mas os valores cristãos de educação. As palavras do Papa aos bispos do Reino Unido são, nesse sentido, importantes:



” Vosso país é conhecido pelo firme compromisso com a igualdade de oportunidades para todos os membros da sociedade. No entanto, como vós observastes com razão, o efeito de algumas das legislações destinadas a alcançar este objetivo tem sido impor limitações injustas à liberdade de comunidades religiosas para agir de acordo com suas crenças. Em alguns aspectos, isso realmente viola a lei natural, sobre a qual a igualdade de todos os seres humanos está alicerçada e pela qual é garantida. Exorto-vos, como Pastores, a garantir que o ensino moral da Igreja seja sempre apresentado em sua totalidade e defendido de modo convincente. A fidelidade ao Evangelho em nada restringe a liberdade dos outros – pelo contrário, ela serve à liberdade oferecendo-lhe a verdade. Continueis a insistir no vosso direito de participar no debate nacional, através de um diálogo respeitoso com os outros setores da sociedade. Ao fazer isso, vós não estais apenas mantendo uma longa tradição britânica de liberdade de expressão e intercâmbio honesto de opiniões, mas dando voz às convicções de muitas pessoas que não dispõem dos meios necessários para se expressar: quando muitos da população se declaram cristãos, como alguém poderia contestar o direito de o Evangelho ser ouvido?”

(Papa Bento XVI, Discurso à Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales, § 2; 1º de fevereiro de 2010)

O Papa se manifesta aos bispos deixando bem claro que não concorda de modo algum com as medidas laicistas totalitárias queo governo civil anda tentando implantar no país, e que também não pode concordar com a invasão que o Estado inglês tenta fazer na Igreja, quebrando a idéia de laicidade (Estado, corpo totalmente independente da Igreja; e vice-versa).

Se o povo é tão desinformado quanto à Igreja e quanto aos valores por ela promovidos, certamente parte dessa culpa é da mídia, que distorce aquilo que é verdadeiro para poder divulgar suas idéias mesquinhas.

Rezemos pelo Santo Papa e por sua autoridade de apóstolo da mensagem do Evangelho.

Fonte: Ecclesia Una

domingo, 22 de agosto de 2010

Por que as igrejas cristãs são obcecadas pela bunda dos gays?

Eu não gosto de pizza de banana. Portanto, eu simplesmente não como pizza de banana. Ponto. Eu não gasto meu tempo pensando em pizza de banana, não encho o saco de quem gosta de pizza de banana dizendo que pizza de banana é ruim e não tento organizar as pessoas que não gostam de pizza de banana para impedir por via legislativa que as pessoas que gostam de pizza de banana tenham os mesmos direitos que eu através de legislações discriminatórias, muito menos alego para fundamentar a pretensão de banir do do mundo a pizza de banana que pizza de banana é uma abominação porque consta nas escrituras sagradas do anti-banananismo que Deus não gosta de pizza de banana, até porque isso é irrelevante para quem não é anti-bananista.

As igrejas cristãs não gostam da homossexualidade. Entretanto, ao invés de simplesmente não realizar casamentos religiosos entre pessoas do mesmo sexo, as igrejas cristãs passam o tempo todo pensando nas relações entre pessoas do mesmo sexo, enchendo o sexo de quem gosta de relações com pessoas do mesmo sexo dizendo que relações com pessoas do mesmo sexo é ruim, tentando organizar as pessoas que não gostam (ou dizem não gostar) de relações entre pessoas do mesmo sexo para impedir por via legislativa que as pessoas que gostam de relações com pessoas do mesmo sexo tenham os mesmos direitos que as que não gostam (ou dizem não gostar) de relações entre pessoas do mesmo sexo e alegam para fundamentar sua pretensão de banir do mundo as relações entre pessoas do mesmo sexo que relações entre pessoas do mesmo sexo são uma abominação porque consta nas escrituras sagradas do cristianismo que Deus não gosta de relações entre pessoas do mesmo sexo, mesmo isso sendo irrelevante para quem não é cristão.

Eu gostaria de saber por que as igrejas cristãs são tão obcecadas pela bunda alheia.

Ontem a Argentina aprovou uma lei que garante a gays e lésbicas a igualdade de direitos em relação a casais heterossexuais. Foi uma decisão histórica, que colocou a Argentina na vanguarda da América Latina na afirmação dos Direitos Humanos.

Pois não é que uma (debilóide) juíza argentina disse hoje que “jamais realizará o casamento de casais homossexuais” porque foi “criada lendo a Bíblia”.

As palavras dela foram estas:

- Que me acusem do que quiser. Deus me diz uma coisa e eu vou obedecer com todo rigor, mesmo que custe meu posto, e mesmo que me custe a vida, porque primeiro está o que Deus me diz. Fui criada lendo a Bíblia e sei o que Deus pensa. Deus ama a todos, mas não aprova as coisas ruins que as pessoas fazem. E uma relação entre homossexuais é uma coisa ruim diante dos olhos de Deus.

Dito de outro modo:

- Que se dane a lei. Eu sou juíza mas não vou cumprir a lei porque minha crença religiosa vale mais que a lei e tem que ser imposta aos outros mesmo que eles não acreditem no mesmo que eu.

Isso é o que o cristianismo faz com a cabeça de muita gente. Todo o cristianismo, porque a única coisa para a qual os católicos e os evangélicos se unem é para discriminar, humilhar e ofender os gays e as lésbicas, além de fazer todo o possível para impedir que estes cidadãos e cidadãs conquistem isonomia de direitos com os cidadãos e cidadãs heterossexuais.

Interesantemente, se perguntadas a respeito da sharia e da obrigatoriedade do hijab ou da proibição ao estudo para as mulheres, estas mesmas pessoas diriam que se trata de um absurdo e que o Estado nos países islâmicos não deveria permitir que a religião impusesse um código de vestimenta nem impedisse que as mulheres estudassem, porque Direitos Humanos, blá-blá-blá, dignidade das pessoas, blá-blá-blá, Estado laico, blá-blá-blá, etc. e tal. Dois pesos, duas medidas.

O que essa juíza fez – e que será apoiado por muitos (debilóides) fundamentalistas religiosos – foi o seguinte: no Livro do Levítico, mais especificamente em Levítico 18,22, “Deus” declara que é abominação “deitar homem com homem”, portanto a juíza temente a “Deus” declarou que jamais casará dois homens entre si.

Pelo mesmo raciocínio, essa juíza poderia negar-se a cumprir as leis contra o trabalho escravo, pois no mesmo Livro do Levítico, mais especificamente em Levítico 25, 44-46, existe expressa permissão de “Deus” para se ter e negociar escravos. Como é que uma juíza temente a “Deus” haveria de punir aquilo que “Deus” permite expressamente?

“Ah, mas é diferente!”

Sim, claro, sempre é diferente. Sempre há uma explicação furada para justificar o injustificável. Sempre há uma longa exegese para fundamentar o fato que “isso aqui vale, aqui ali não vale”, apesar de ambos os preceitos – entre muitas outras aberrações – estarem claramente expressos no mesmo livro da Bíblia.

O que é realmente absurdo, entretanto, não é que haja quem acredite que Deus fala através de um livro, de profetas ou seja lá como for, mas que essas pessoas tentem impor aos outros aquilo em que acreditam quando elas mesmas não cumprem aquilo que está escrito no seu livro sagrado, ou dito pelo seu profeta, ou seja lá o modo como acham que Deus se manifesta.

Se todo mundo que se diz cristão cumprisse os preceitos do Antigo Testamento, o mundo seria um inferno e teríamos que promover guerras para proteger as pessoas de serem assassinadas por apedrejamento por trabalhar aos sábados.

Se todo mundo que se diz cristão cumprisse os preceitos do Novo Testamento, o mundo seria um paraíso e poderíamos viver tranqüilos porque todos estariam ajudando ativamente o próximo como manda a Parábola do Bom Samaritano.

A verdade é que todas as vertentes do cristianismo fazem uma leitura self-service da Bíblia, absolutamente parcial, sem nenhum compromisso com a totalidade do que dizem considerar “a Palavra de Deus”.

E todas as igrejas cristãs continuam obcecadas com a bunda dos gays ao invés de cuidarem do próprio (rabo) rebanho.

Arthur Golgo Lucas – www.arthur.bio.br

Instituto Adé Diversidade

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Entrevista com o autor Valdeck Almeida de Jesus

Entrevista com o autor Valdeck Almeida de Jesus
Do blog de Kiko Riaze

Quando entrei em contato com Valdeck Almeida de Jesus (foto) pela primeira vez, tinha em mente apenas trocar algumas palavras sobre o concurso de contos LGBT’s que ele organizou no ano passado e no qual meu amigo Thiago Thomazini foi o grande vencedor com o seu conto “As Cidades”. A idéia original era fazer uma entrevista com o Thiago, e usaria algumas palavras do Valdeck como uma espécie de apresentação do concurso e da antologia de contos que surgiu a partir dele. Entretanto, diante da grandeza da trajetória pessoal e literária de Valdeck Almeida de Jesus, eu não podia deixar de dedicar a ele um post especial.

Valdeck é baiano da cidade de Jequié. Nascido em uma família pobre que morava em casa de taipa, filho de pais analfabetos que não tinham condições de sustentar 8 filhos, Valdeck passou uma rasteira num destino aparentemente inevitável e deu a volta por cima. Fez dos livros a porta de saída de uma vida de miséria, ensinou a sua própria mãe a ler e escrever e venceu na vida. Hoje, Valdeck é escritor, jornalista, poeta e funcionário público federal. Premiado em vários concursos literários, com menção honrosa em tantos outros, Valdeck se tornou um expoente da cultura baiana e, obviamente, brasileira.

Sua obra é extensa. Possui poemas publicados em mais de 50 antologias, tem participação ativa em eventos culturais e possui vários livros publicados, entre eles um livro que conta a trajetória de luta e vitória de sua família, chamado Memorial do Inferno – a saga da Família Almeida no Jardim do Eden.

Possui ainda um livro de poemas com temática gay lançado em Nova York: “Heartache Poems. A Brazilian Gay Man Coming Out from the Closet”, e sua atuação em prol da comunidade LGBT baiana rendeu a ele o Prêmio Luiz Mott de Cidadania, em 2008.

Em sua entrevista para o Subvertendo Convenções, Valdeck fala sobre o concurso de contos LGBT’s que ele promoveu, a chamada literatura gay e militância, além de sua amizade com o ex-BBB Jean Willys.

Vale muito a pena conferir:

Subvertendo Convenções: O Prêmio Valdeck Almeida de Jesus publica obras inéditas de autores desconhecidos desde 2005. O que o levou a tomar a iniciativa de criar uma versão LGBT para o concurso?

Eu sou um sonhador, e como dizia Raul Seixas, “Sonho que se sonha só. É só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade”. Eu sempre tive sonhos, ainda tenho muitos e, apesar de a vida moderna não permitir mais a gente sonhar, eu insisto.

Não acredito mais em papai noel nem em fada (risos), mas me permito fantasiar, embarcar em sonhos possíveis. E todos os meus sonhos eu os torno possíveis. Senão, a vida perderia a graça, a magia, não é mesmo?

Bem, falando de poesias, conheci textos poéticos ainda criança, no Instituto de Educação Régis Pacheco, em Jequié, onde estudei. Dali pra frente comecei a imitar os poetas, escrevendo com rima, cadência, medindo as sílabas etc. Depois tive contato com poetas mais contemporâneos e passei a fazer poesia livre. A liberdade sempre me atrai, me fascina.

Meu primeiro sonho em relação a poesia foi publicar um livro. Fui enganado várias vezes através de promessas de políticos. O jornal de minha cidade até publicou uma matéria sobre o lançamento de um livro meu, que nunca saiu da gaveta. Fiquei vinte anos esperando pelo milagre. Quando cansei de esperar botei o pé na estrada e publiquei “Heartach Poems. A Brazilian Gay Man Coming Out from the Closet”, por uma editora americana, em 2004. No ano seguinte lancei “Feitiço contra o feiticeiro” (que tinha esperado vinte anos para ser publicado) e “Memorial do Inferno. A saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, prefaciado por Lázaro Ramos e cuja renda doei para as Obras Sociais Irmã Dulce.

Resolvi patrocinar um prêmio literário que incentivasse autores desconhecidos, inéditos ou com pouco espaço na literatura, pois sei que as editoras não incentivam poetas. Passados cinco anos lançando livros de poesia pelo Brasil todo, percebi novas demandas, principalmente pela literatura mais marginal que existe, a mais discriminada e maldita: a literatura gay. Infelizmente o que se tem publicado ou divulgado sobre gays e lésbicas são textos mais ligados a pornografia, a doenças sexualmente transmíssveis, violência e o lado cômico, trágico, exótico. O gay sempre é retratado como motivo de riso, em programas de humor, em novelas etc. Quase nunca aparece um gay intelectual, profissional no que faz, casado etc. Só se mostra piadas, brincadeiras e atitudes que não representam a maioria dos LGBTs.

A versão de contos LGBTs dentro do Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus veio justamente preencher uma lacuna e fincar um marco. O primeiro requisito do concurso que realizei foi exigir que os textos não desmoralizassem, não fossem homofóbicos nem caricatos. Claro que as personagens e até os narradores poderiam ter seus preconceitos, mas o objetivo do livro não era estigmatizar ainda mais uma parcela da população que sempre foi massacrada, odiada, assassinada impunemente. Basta ler os relatórios que o Grupo Gay da Bahia divulga na mídia todos os anos. Eu não queria nem quero reforçar estereótipos e jamais permitiria a publicação de qualquer texto que ferisse a integridade, a moral, ou que achincalhasse gays, lésbicas, travestis, transsexuais, transformistas etc.

Eu sempre defendi os direitos humanos, apoio minorias, pois sou parte dessa minoria. E mesmo que não o fosse, minha visão de mundo não me permite agir de outra forma.

SC: Como participante ativo de rodas e saraus literários você tem contato direto com a realidade de escritores e conhece bem as dificuldades para publicação de uma obra. Acha que as obras de temática homossexual enfrentam maior resistência do mercado ou as editoras já as consideram como um novo filão a ser explorado?

Eu acho que literatura é literatura, como arte é arte. Os rótulos servem apenas para diferenciar, discriminar. Eu diria que os homossexuais são discriminados em tudo, e qualquer coisa que seja ligada à temática sofre resistência de editoras, livrarias, jornais, distribuidores etc.

Agora já existe um aceno tímido do mercado por livros, filmes, revistas que tragam à tona a discussão da homossexualidade. Mas isso não pode ser confundido com apoio, pois as editoras, com poucas e raras exceções, publicam o que é consumido mais facilmente. Nem mesmos os gays têm coragem de publicar seus livros, colocar no papel os seus sentimentos, medos, buscas. Aos poucos, entretanto, esse movimento de dentro (do armário) para fora, vai tomando corpo. Nem todo gay gosta de ler textos referentes à homossexualidade. Alguns amigos que conheço têm horror a se informar, pois eles preferem ficar enrustidos, desinformados, culpando o sistema e a sociedade por não serem aceitos. Outros, entretanto, já buscam se politizar, se informar e lutar por respeito, mesmo que a luta seja nos bastidores, através de blogs assinados sob pseudônimo (www.gayrotodeprograma.blogspot.com).

Acredito que, independentemente de haver demanda, reprimida ou não, o que falta é coragem para investir em livros de boa qualidade editorial, contando histórias de verdade, dramas pessoais, ficção com tramas atraentes. Algo já está sendo feito por bons escritores homossexuais e boas editoras. Mas tudo é muito incipiente ainda. Tenho um sonho que um dia vou ver livros, filmes e outras criações artísticas por todo canto e não apenas em lugares “especializados”. Não gosto de guetos, de lugares específicos para este ou aquele grupo social. Defendo a liberdade de ir e vir para todos e que todo mundo possa expressar ideias e sentimentos em qualquer lugar, seja num shopping, na praia, rua, saguão do prédio onde mora etc.

SC: O que você acha do termo “Literatura Gay”? Concorda com essa classificação?

Já respondi um pouco sobre esta pergunta. Não gosto de rótulos, etiquetas e coisas do gênero. Se tem que diferenciar um livro, que se ponha dois homens ou duas mulheres se beijando ou em atitudes de carinho e afeição na capa, por exemplo. Chamar uma criação literária de literatura gay talvez chame a atenção para algo que não está naquela obra, ou seja, se confunde muito “gay” com sexo, depravação, promiscuidade. E por causa deste entendimento equivocado tudo ou quase tudo que se rotula como “gay” tem sido compreendido como sexual, como pornográfico. Quando se vai a um cinema ver um filme “gay”, a ideia que esta palavra evoca é que haverá muita putaria, sacanagem e sexo selvagem na tela. E as pessoas se frustram quando não encontram isso… E mesmo quando há cenas românticas, de afeto, carinhos as pessoas se chocam. Eu assistia ao filme “O segredo de Brokeback Mountain” e vi muita gente sair apressada da sala de exibição quando começaram as cenas de afetividade.

Eu não gosto de perceber livros, filmes etc com um rótulo. Rótulo diferencia, discrimina. Prefiro ver a arte como arte.

SC: Você tem um livro de poemas em língua inglesa, lançado em Nova York, chamado “Heartache Poems. A Brazilian Gay Man Coming Out from the Closet”. Fale um pouco sobre este trabalho.

Este livro retrata uma vida conturbada, difícil, dura, que vivi no interior da Bahia. Imagine o que é um menino católico, nascido e criado em meio a padres, freiras, catecismos etc, se sentir diferente e não poder compartilhar os sentimentos, falar das emoções. E o pior: ter que namorar garotas, camulhar, fingir, se esconder até mesmo de si. Eu me masturbava vendo revistas de cosméticos, nas quais havia imagens de rapazes e depois ia abraçar minha namorada. Eu me sentia um monstro, mentiroso, pervertido. O sentimento que eu tinha por garotas era meio forçado. Tinha que demonstrar o tempo todo uma masculinidade que eu não tinha, não sabia como ter. E ouvia piadinhas, gracejos, insinuações. Foi terrível. Esse pesadelo durou 23 anos, quando conheci o sexo com outro homem. Ainda não me curei do trauma da adolescência, mas estou em processo, como acredito que muita gente também esteja.

O livro traz poemas que eu dedicava a mulheres, namoradas, com a intenção de dedicar a homens, rapazes, que povoavam meus sonhos e desejos (risos).

SC: O que o levou a lançar um livro fora do país?

O que leva todo gay a fugir de casa: o medo de ser visto, reconhecido, chamado de gay. E escrever em uma língua estrangeira, em um país distante, era a saída. Eu não aguentava mais sufocar tanta repressão, tanto medo, tanto horror. Eu via pessoas serem apedrejadas em Jequié, ouvia história de violência contra gays. Eu não tinha coragem nem mesmo de comprar uma revista erótica, para não ser “confundido” com um gay. O lançamento do livro, apesar de em terras distantes, me deu impulso e coragem para continuar a vida, aceitar mais a homossexualidade. Passei a militar em grupos de defesa dos direitos humanos (aí inseridos os direitos dos gays) e passei a me preocupar mais comigo, com minha felicidade.

SC: Percebe alguma diferença entre o mercado editorial americano e o mercado brasileiro em relação às obras de temática gay?

Guardadas as devidas proporções, pois nos Estados Unidos se investe muito mais em arte do que no Brasil, lá há mais consumo. Mas a discriminação também existe, apesar de em menor grau.

SC: Você é criador do 1° fã clube oficial do Jean Wyllys e a amizade entre vocês dois está evidenciada em diversos trabalhos seus, inclusive, na antologia de contos LGBT’s, que é dedicada a ele. Conte-nos um pouco sobre esta amizade.

Conheci Jean Wyllys na época do Big Brother. Foi paixão à primeira vista. Paixão pelo trabalho dele, pelas atitudes de vida, pela postura, coerência entre o que ele diz e o que ele vive. Se tem uma qualidade que eu admiro no ser humano é a postura coerente. Eu coleciono reportagens, fotos, revistas, matérias em jornais impressos ou na mídia eletrônica e jamais li algo contraditório dito por ele. Jean Wyllys tem uma inteligência espetacular e a história de vida dele não mudou depois do Reality Show. A família, núcleo primordial da vida dos seres humanos, é sagrada para Jean. A primeira coisa que ele fez ao ganhar o prêmio foi investir pesado no conforto, acesso a educação de qualidade, no aconchego dos familiares. Isso é muito bonito e digno de reportagens. A mídia não se interessa, por óbvio, isso não vende jornais nem revistas.

A maior riqueza que o Jean Wyllys tem é a vida privada dele, a vida particular, a vida familiar. Não vende jornais mas rende amigos, amigos sinceros e verdadeiros. Os amigos que ele possue são de longas datas, da época em que ele era professor e jornalista em Salvador. E não vai mudar, pois foram amizades construídas na sinceridade, no respeito. Falar de Jean Wyllys é falar de respeito ao diferente, à minoria. Então, com minha história de vida, era impossível não me tornar fã número um.

SC: Difícil falar de Jean Wyllys sem falar de BBB. Recentemente, assistimos à vitória do Marcelo Dourado na 10a edição do programa, que os grupos gays chamaram de vitória da homofobia e do fascismo. Qual a sua opinião a respeito? Considera que houve um retrocesso na sociedade desde a vitória do Jean, que é gay assumido?

Acho que o gay já é mais aceito na sociedade. Principalmente após o Jean Wyllys, que passou outras imagens sobre gay: respeito, inteligência, coerência, humanidade, honestidade. Mas o ódio, a discriminação,não mudam da noite para o dia. Muita gente aceita o gay, pois não pode agredir, matar. Prova disso se tem todo dia nos jornais impressos e na TV, com lésbicas, gays, travestis, transformista e transsexuais sendo assassinados covardemente. Os criminosos, quando presos, quase nunca são condenados e quando são conseguem fugir.

SC: No seu livro Memorial do Inferno, você fala sobre sua passagem pela militância partidária e sobre os motivos que o fizeram abandonar a política. Como você enxerga hoje a política brasileira em relação às causas LGBT’s e qual a sua opinião sobre a ação dos grupos gays militantes?

Eu desisti da militância partidária porque não estava devidamente maduro para abraçar uma luta tão grande. Desde que comecei votar, no entanto, tenho votado nos mesmos candidatos e acompanhado o trabalho deles. A política brasileira tem abraçado bandeiras LGBTs, não porque os políticos tenham mudado, mas devido à luta militante de muitos gays e lésbicas. Em Salvador, por exemplo, a LeoKret do Brasil, transsexual, foi eleita vereadora. Em outros estados tem acontecido fenômeno semelhante, mas tudo é muito inicial. Se não fossem a lutas encampadas por grupos como o GGB (Grupo Gay da Bahia), em Salvador, o Grupo Liberdade Igualdade e Cidadania Homossexual – Glich, de Feira de Santana, o Adamor, em São Sebastião do Passé-BA, o Arco Iris (Rio de Janeiro), o MGA (Movimento Gay de Alfenas e região sul de Minas), as assosiações e grupos de São Paulo e de todo o país, não teríamos horizonte.

Sem luta não há vitória. E lutar nem sempre significa empunhar a bandeira, participar das paradas e manifestações de rua. Este movimentos e manifestações são muito importantes, pois dão a cara a tapa em prol de muitos gays e lésbicas que não têm coragem para se declararem homossexuais. Tem outras formas de militar, como se engajar na política partidária, denunciar anonimamente a violência, escrever em sites e jornais etc. Tudo é válido para mudar o cenário e dar dignidade aos LGBTs.

SC: Como você avalia o nível dos textos concorrentes ao PrêmioValdeck Almeida de Jesus de Contos LGBT’s?

Excelentes. Recebi textos do Brasil inteiro e foi muito difícil para a equipe avaliar e escolher. Alguns fugiam da temática, outros passavam do tamanho exigido no edital, mas no final a seleção dos doze melhores mostrou um panorama diverso e de muito boa qualidade. São textos curtos, concisos, cada um com uma linguagem e um estilo próprios, mas todos com a mesma característica: o respeito ao diferente.

SC: Podemos esperar um novo concurso de contos com temática gay para o próximo ano?

Risos. Eu patrocino este prêmio com o dinheiro do meu salário. Em 2010 fiquei no vermelho todos os meses. Vou tentar promover outro concurso em 2011, mas ainda não tenho grana suficiente. Espero que eu consiga.

SC: Onde os leitores podem adquirir a antologia de contos LGBT’s e conhecer suas outras obras?

O livro de contos eu tenho para venda direta, através dos correios. A pessoa entra em contato comigo e pega as instruções (valdeck2007@gmail.com). “Memorial do Inferno” está no site da Livraria Cultura, “Heartache Poems…” pode ser comprado no site Amazon e os demais livros qualquer pessoa adquire comigo mesmo. Mais informações no meu site www.galinhapulando.com

domingo, 8 de agosto de 2010

Prefeito islandês se veste de drag queen para abrir festival gay

Jon Gnarr
Prefeito islandês se veste de drag queen para abrir festival gay. Eleição de comediante para o cargo foi considerada sinal da insatisfação do povo com seus políticos.

O prefeito da capital da Islândia, Reykjavik, abriu a parada gay da cidade vestido de drag queen na noite de quinta-feira.

Jon Gnarr, um famoso comediante eleito em junho para o cargo de prefeito, apareceu no palco trajando um vestido rosa, peruca loira e batom vermelho.

Assumindo o personagem, Gnarr disse para a multidão que "o prefeito, infelizmente não conseguiu comparecer".

"O que ele pode estar fazendo? Talvez esteja visitando o Moonin Valley", disse, referindo-se a uma história infantil finlandesa, popular na Islândia.

"Isso é o que você recebe por votar em um palhaço", completou.

Insatisfação

Gnarr, do irreverente Best Party (Melhor Partido) venceu as eleições com promessas como toalhas grátis nas piscinas públicas e um urso polar para o zoológico local.

Em sua campanha, Gnarr prometia ainda o que chamava de "transparência sustentável".
Após a vitória, ele disse que sua eleições sinalizava o descontentamento da população com políticos, depois da crise econômica do país em 2008.

Em 2009, a Islândia tornou-se o primeiro país com um chefe de Estado abertaente homossexual, quando Johanna Sigurdardottir assumiu o cargo de premiê.

Fonte: Doisterços